REFORMA EDIFÍCIO JOÃO DE BARRO, 2023
O Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que em São Paulo existem cerca de 590 mil imóveis particulares vazios, somente no centro são aproximadamente 20% de imóveis desocupados.
A memória de uma cidade está escrita nas estruturas dos seus edifícios, nos perfis urbanos que outrora encontraram no centro espaços vivos e efervescentes. Esses prédios aguardam transformação diante das novas dinâmicas da vida e do trabalho. REpensar os destinos do imenso legado construído no centro da cidade de São Paulo é tarefa urgente.
Este pequeno edifício de esquina, construído na década de 60 pela Construtora Richter e Lotufo, próximo ao edifício do IAB, onde as ruas General Jardim e Rego Freitas se encontram, abrigou originalmente espaços de escritórios e era chamado de edifício Rolambda. Com o tempo, foi se esvaziando até ficarem só um ou dois dos seus sete andares ocupados. A movimentação no bairro e a vida noturna ativa, a proximidade com a faculdade de arquitetura da Escola da Cidade, entre outras, levou a incorporadora a propor a reforma com implantação de apartamentos residenciais e tipologias variadas [estúdios e 1 dormitório]. As tipologias se adequaram aos módulos estruturais existentes, mantendo a lógica das circulações vertical e horizontal praticamente intactas, inclusive nos seus acabamentos.
A estratégia para a reforma das fachadas mantém o ritmo e desenho das aberturas na face principal, na rua Rego Freitas, e as leva para a face menor, na General Jardim. A variação pré-existente coincidentemente já atendia às regras atuais de combate a incêndio, garantindo compartimentação vertical com a defasagem das grandes aberturas.
Além disso, os novos caixilhos foram instalados 50cm para dentro da fachada, instalando um armário internamente e estabelecendo concavidades nessa fachada, espessura e vazio, que protegem as novas esquadrias, anteparo ao sol e à chuva.
A decisão de manter as lajes nervuradas aparentes nos apartamentos trouxe a surpresa de que as madeiras utilizadas nas formas da construção ainda estavam lá. Foram recuperadas e utilizadas no mobiliário dos apartamentos e na parede que abriga os quadros elétricos do hall de entrada.
O piso de tacos de madeira, dos andares superiores, foi mantido e restaurado, e nas áreas úmidas e corredores se incorporou um novo piso de granilite, material que convoca os ambientes originais destes edifícios. As pastilhas de porcelana da escada, seu corrimão em serralheria, os corredores ventilados e iluminados através das janelas com vidros de padrão variados, as lojas do bairro, animando o nível da rua, o ritmo das aberturas, as texturas dos revestimentos da fachada são testemunhas de um passado que hoje abre passo a novos usos. Uma nova camada à construção das memórias dessa cidade.