PRAÇA JULIO PRESTES E PÓLO CULTURAL DA LUZ, 1998

A observação contínua sobre o bairro da Luz nos levou a um projeto que compreendesse as dimensões locais (cotidianas) e metropolitanas que esse trecho da cidade nitidamente reúne.

A Luz é secionada por dois eixos que se cruzam perpendicularmente e que são determinantes na organização da região: a via férrea e a Av. Tiradentes, uma via expressa de ligação norte/sul. O bairro que reúne setores residenciais de padrão médio à cortiços, teve uma ocupação caracterizada, inicialmente, por imigrantes italianos, gregos e judeus, sendo hoje progressivamente substituída por coreanos. As vilas operárias construídas no começo do século são ainda referências da urbanização do bairro. Dezenas de edifícios históricos com uso institucional e cultural, somados à presença do mais antigo parque público da cidade, o Jardim da Luz, reforçam o caráter metropolitano da região.

A Secretaria de Estado da Cultura realizou uma série de obras na região, como a Reforma da Pinacoteca, a sede da Orquestra Sinfônica e a Escola Superior de Música (em andamento). No entanto, esse grande investimento não foi, até o momento, acompanhado de um projeto social que apresente um programa de melhorias à população que vive na região.

Localizada num importante entroncamento de transportes públicos, a região da Luz tem sua dimensão urbana marcada pelo grande número de pessoas que aí circulam. Mudanças estruturais no sistema de transporte sobre trilhos deverão gerar um impacto bastante significativo no bairro. No cerne dessas transformações se encontra o Programa Integrado de Transportes Urbanos (PITU) desenvolvido pela Secretaria de Transportes do Estado que, operando em escala metropolitana, integra planos da Companhia do Metropolitano (METRO), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), da EMPLASA, da CET. A implantação da Integração Centro conecta as antigas linhas da Sorocabana, Central do Brasil e Santos-Jundiaí em uma única rede, interligando as estações Brás/ Luz/ Barra Funda. A estação Luz, então, deverá assumir papel estratégico de ponto integrador das linha norte/sul e futura linha 4 do metrô.

A praça localiza-se na entrada principal do edifício Júlio Prestes, de 360 metros de extensão, que abriga hoje uma estação ferroviária, a nova sede da Secretaria Estadual de Cultura e da Orquestra Sinfônica do Estado. Embora não tenha grande valor arquitetônico, o edifício, tombado como patrimônio da cidade, é um marco importante para o bairro e para a arquitetura ferroviária em São Paulo.

O desenho da nova praça Júlio Prestes comporta os usos que hoje se observam no local e no seu entorno, oferecendo ao mesmo tempo a possibilidade de ampliar ao ar livre as atividades musicais da Orquestra Sinfônica e outros eventos culturais. Ou seja, um espaço que se caracterize como praça e não como jardim; um lugar de convergência para as distintas atividades das pessoas que aí moram, trabalham ou passam. Os programas culturais que a presença da Orquestra Sinfônica ou Secretaria de Cultura podem sugerir devem transpor os limites do edifício e participar da praça.

O mais importante acesso viário, a avenida Duque de Caxias, é o limite leste da praça. É nesta direção que se busca a integração com os outros equipamentos culturais do bairro da Luz. O projeto da praça privilegia esta vista do edifício Júlio Prestes, marcada sobretudo pela profundidade do edifício da estação. Uma série de bandeiras anunciam a programação da sala de concertos e iluminam este setor da praça.
O lado sul é ocupado pela antiga estação rodoviária de São Paulo e atualmente funciona como um centro comercial atacadista. Uma alameda de árvores pau-ferro desenha uma calçada ampla e define uma orientação predominante, voltando a praça para o edifício da estação. Uma linha de palmeiras imperiais indica a entrada atual da estação ferroviária. Na calçada alargada, no outro lado da rua, uma linha de ipês-roxos limitam visualmente o espaço da praça, ao mesmo tempo que expandem do lote para o bairro o limite da intervenção.
Considerando o grande fluxo de pedestres que cruza a praça diariamente, as calçadas propostas são generosas e indicadas por um piso de mosaico português branco, que se diferencia do espaço central da praça, em mosaico vermelho. As árvores de grande porte que existem no local serão organizadas dentro de um piso de paralelepípedo com grandes bancos de madeira, configurando um espaço de estar sombreado. Os degraus que se formam a partir do suave declive natural do terreno criam uma sutil referência de escala para a praça.

Enfatizando o programa estabelecido pela Secretaria de Estado da Cultura, um corte suave no terreno é criado para favorecer os espetáculos ao ar livre. Este novo declive apenas reforça o caimento natural da praça em direção à estação, e a extensão do piso de granito apicoado até a soleira do prédio reforça o sentido predominante da praça em direção ao edifício. Alguns exemplos de uso de planos inclinados em praças públicas oferecem imagens extraordinárias da função desses pisos na organização dos espaços abertos e da sua relação com os edifícios mais marcantes, o que se observa em locais tão distintos como a Piazza del Campo em Siena e praça do centro Georges Pompidou em Paris.

Uma série de fontes de água no piso inclinado atuam como elemento de atração. Durante a noite os jatos iluminados anunciam o espetáculo da sala de concertos, enquanto durante o dia as fontes animam as pessoas que frequentam a praça.

Esculturas de madeira feitas por Elisa Bracher foram distribuídas (pela própria artista) de forma inusitada, ora isoladas, ora agrupadas, estabelecendo um diálogo peculiar das escalas das obras com os edifícios e as pessoas, na medida em que abrangem a totalidade dos espaços da praça.
As definições de desenho e escolha dos materiais durante todo o desenvolvimento do projeto tiveram como pressupostos soluções de baixo custo e, sobretudo, de fácil manutenção.
Como resultado destas preocupações o valor orçado para a execução desta praça, espaço público de cerca de 18 mil metros quadrados, é de aproximadamente 2 milhões de reais, o que representa menos de 5% do valor divulgado para a realização da obra de instalação da Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado.

área de projeto 17.985,00 m2

projeto 1998

UNA Arquitetos, Ana Paula Gonçalves Pontes, Catherine Otondo, Cristiane Muniz, Fábio Rago Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Felippe Viégas

com Regina Prosperi Meyer

colaboradores Cássia Buitoni, Cesar Shundi, Cintia Coutinho, Eduardo Chalabi, Gustavo Moura, Mariana Viégas, Pablo Hereñú

esculturas Elisa Bracher

paisagismo eng. agrônomo Ricardo Vianna

tecnologia de materiais eng. Giovanni Palermo

cobertura tensionada arq. Maria Cecília Cerroti (Loira)

levantamento planialtimétrico e cadastral Etagri – Serviços de Engenharia e Construções

instalações hidráulica e elétrica Ramoska & Castellani Projetistas Associados

luminotecnia Franco & Fortes Lighting Design

orçamento quantitativo-financeiro Quantum Consultoria

maquete eletrônica Clóvis Cunha