ESCOLA INFANTIL, 2022

2º prêmio em concurso fechado por convite

Nada é mais emocionante do que imaginar os espaços que serão referência para crianças medirem o mundo. As primeiras ações da vida desses pequenos acontecerão amparadas por adultos que têm, como principal função, cuidar.

Todo o projeto foi pensado a partir dos verbos relacionados, por um lado, às crianças e, por outro, aos adultos.

Os alunos estão ali para brincar, aprender, conhecer, criar, conviver, coletivizar, expressar, ouvir, falar, andar, explorar, encontrar, registrar, imitar, observar, imaginar, lembrar, percorrer, experimentar, comparar, sentir, dormir, sonhar, pular, escorregar, cantar, desenhar, festejar, perder, achar, errar e, enfim, crescer (um pouco).

Pais e professores devem proteger, oferecer, ajudar, ensinar, encaminhar, compreender, vigiar, limpar, banhar, carregar, alimentar, administrar, confiar, mostrar, oferecer, proporcionar, e portanto, amar.

À arquitetura, nesse caso, cabe propor desenhos que permitam a fluidez dos encontros entre todos e a ideia de que qualquer ação educa.

A primeira preocupação foi acústica: o terreno situado na Marginal Pinheiros oferece um nível de ruído alto, 70 decibéis, o que poderia comprometer as atividades propostas. O projeto do edifício incorpora a solução de escudo sonoro, fechando-se para o exterior e abrindo-se para um pátio interno totalmente protegido. Os taludes vegetais reforçam esse controle, garantindo também filtros visuais e comportas naturais contra enchentes. As circulações periféricas formam uma dupla camada de barreira ao som para as salas de aula. O fechamento externo será em blocos de vidro, proporcionando uma redução de 22 decibéis do exterior para o corredor [ficando com 48db], e ainda resultando em 33 decibéis para as salas de aula, dentro dos padrões mais desejados para classes [e superando a exigência das normas técnicas]. Esse invólucro translúcido na fachada permite perceber o movimento das crianças como conjunto, somente como vultos. Essa dança constrói a identidade visual da arquitetura. À noite funciona como referência na paisagem, irradiando luz. Será visto desde o outro lado do rio, nas colinas da Universidade, ao mesmo tempo em que de dentro do pátio será possível perceber a vastidão geográfica da várzea do rio.

Os espaços de aprendizado ao ar livre indicam a necessidade do pátio e jardim central generosos (850,00 m2), vistos por todos para facilitar tanto o cuidado pelos adultos, quanto o convívio das crianças. O paisagismo prevê diversos usos, como clareiras em meio à vegetação arbustiva. Serão classes abertas para entendimento do mundo, com céu, solo, água e plantas. Para potencializar toda essa experiência, pensamos ser fundamental que todas as faixas etárias tivessem suas salas de aula abertas diretamente para esse recinto.

Outra questão estrutural para o projeto arquitetônico é a circulação. Devido à diferença de mobilidade entre as crianças, parece imprescindível que os desníveis entre os pisos sejam transpostos por rampas suaves em meios níveis, passeios agradáveis e cômodos também para pais e educadores. O conjunto de rampas foi posicionado na face sul do terreno, ou seja, nunca bate sol direto. Alguns atalhos com escadas facilitam o cotidiano dos funcionários e crianças com maior desenvoltura. Um elevador ainda garante acesso aos níveis pares até o último piso.

Como qualquer escola, o embarque e desembarque é problemático, ainda mais no caso de bebês. Assim, a entrada e saída de veículos, por motivos legais, serão realizadas pela Marginal Pinheiros. Os carros poderão se acumular em fila, controlados dentro do lote, e circulam para deixar as crianças protegidas numa grande plataforma coberta e diretamente ligada ao acesso em rampas. A entrada de pedestres pela Rua Orobó, endereço histórico do Colégio Santa Cruz, também chega diretamente a esse calçadão. Pais e mães podem esperar as crianças nesse espaço. Um estacionamento de 32 automóveis, além de motos, bicicletas e pequenos caminhões para carga e descarga completam esse nível.

O primeiro lance de rampas acessa o refeitório, voltado para um pátio com plantas, onde está a horta, e para a rua mais calma. Pareceu-nos interessante aproximar o cultivo dos temas de aprendizagem, do uso comunitário. Esse nível permite também acesso da cozinha diretamente a uma doca no estacionamento.

Seguindo o percurso, chega-se ao nível do jardim interno, para onde convergem todos os programas e onde tudo se potencializa. Uma grande cobertura, em continuidade às rampas, abriga o pátio coberto e o ateliê aberto.

Os ambientes criados no interior desse espaço aberto possibilitam diversas atividades direcionadas, criando diferentes sensações e percepções a partir do próprio corpo. As crianças podem tranquilamente serem divididas em grupos menores, por idades, caso seja conveniente.

A salas de aula se justapõem por ciclos, formando os quatro conjuntos de quatro salas cada. Serão flexíveis para proporcionar as mais diversas brincadeiras e podem ser facilmente agrupadas, além de ampliadas para as varandas cobertas, extensões naturais da classe. Durante a pandemia, percebeu-se a importância desses espaços de transição.

Os estudantes mais velhos ficam meio nível acima, pois têm outro tipo de destreza após o fim da fase de bebês. Enfim, o último lance acessa o nível dos 4 ateliês, que também podem se juntar formando um grande salão com luz natural zenital, cujo objetivo foi chamar a atenção para o céu, movimento das nuvens, mudanças de clima, chuva. Biblioteca, sala multiuso e cozinha-laboratório completam as atividades pedagógicas. Por fim, a administração, como continuidade dos demais programas, tem acesso direto pelas rampas ou pelo elevador, e as atividades do trabalho adulto podem ser exemplarmente vista por todos.

Prumadas de sanitários e circulação pontuam as esquinas do edifício, permitindo um deslocamento mínimo e muitas alternativas de percurso e socorro aos menores, dentro dos parâmetros exigidos pela legislação municipal.

A velocidade da construção, como uma montagem, definiu o uso de estrutura metálica e diversos componentes industrializados, como os toldos leves que se completam com a vegetação para o sombreamento das fachadas, gerando ambientes termicamente confortáveis. O novo edifício alia construção e natureza, integrados pelo alarido das crianças e dos passarinhos.

local são paulo, sp

ano 2022

autores  cristiane muniz e fernando viégas

coautores anna juni, gustavo delonero, henrique te winkel

colaboradores  joaquin gak, paula reis, pedro norberto, ana luiza corrêa, gabriela rochitte leonardo sarabanda, luiza souza, bruna tavares,  matheus pardal

consultores

educadora carina messias

sistemas estruturais companhia de projetos

legislação fernando martines

paisagismo gabriella ornaghi e bianca vasoni

acústica harmonia

paisagismo gabriella ornaghi e bianca vasoni

orçamento liziane lorenzini

instalações prediais  PHE