CONCURSO ESCOLA TÉCNICA E CRIATIVA SENAC SALVADOR, 2023

3° prêmio em concurso público nacional

“A Rua é nóis”  [Emicida]

 

Uma escola em Salvador deveria possibilitar a vivência da cultura da cidade.

Esse projeto procura resgatar a escala das ruas do centro antigo, lugar de referência para todos e todas.

A arquitetura se organiza a partir de uma torre de circulação vertical e demais infraestruturas na face poente do terreno, servindo de anteparo ao calor da tarde, interligada por passarelas ao bloco de salas de aula. A distância entre os dois corpos configura o grande recinto central coberto e iluminado, cuja insolação excessiva é controlada internamente por nuvens de tela toldo de sombreamento translúcido, que abrem e fecham conforme os desejos.

Esse espaço intermédio propicia a convivência entre estudantes, professores, colaboradores e demais cidadãos, reforçando o ensino e a aprendizagem. Como uma rua, interliga a avenida, a passarela do Lelé, a escola, o morro e o casario no fundo do lote, tão característicos da paisagem da cidade. Incorpora, como horizonte do edifício, a vegetação da encosta, o Alto do Saldanha e Parque Bela Vista. Esse ambiente é aberto, fluido, pode ter uso público e amplifica o clima soteropolitano. A presença dessa mata é comum a todos os andares que se abrem para a rua interior e é parte importante das atividades cotidianas, pois a circulação pelas passarelas metálicas, como um voo, permite exacerbar essa experiência entre cidade baixa e cidade alta.

É no nível do chão que podem ocorrer as exposições, desfiles de moda, feiras, eventos artísticos e o foyer de espera às atividades do auditório, elemento mineral, cuja plateia é um mergulho em continuidade à rua. Esse saguão também é o acesso à biblioteca, à administração e a todos os serviços de apoio aos cursos. São vários espaços de extroversão das pesquisas e do conhecimento produzidos nessa escola. O controle entre as áreas de uso público e as áreas restritas à comunidade do SENAC é estabelecido pela lâmina de circulação vertical.

O café, em continuidade com o percurso do térreo, ampara todas essas atividades e se situa no mezanino. Configura-se como um salão de estar sobre o auditório com ampla perspectiva para a rua, próximo ao grande jardim vertical na encosta. Um espelho d’água acentua a presença natural nesse terraço coberto entre dentro e fora, cidade e natureza. As atividades da escola de gastronomia ficam no mesmo pavimento, porém com uso restrito aos estudantes e professores. Completam esse andar as salas abertas de leitura que desfrutam da dupla altura da biblioteca e das vistas do bairro.

Os andares superiores abrigam os demais cursos. No primeiro pavimento situam-se os laboratórios de Moda e Tecnologia da Informação. Os ambientes de atividades educacionais multifuncionais foram desenhados como o espaço central do corpo elevado, e se voltam ao amplo saguão no térreo. São espaços com dupla altura, totalmente flexíveis, a partir de painéis acústicos industrializados, para configurar diferentes possibilidades de arranjos. Podem ser usados para reuniões maiores de interação entre docentes e discentes. O segundo pavimento concentra os segmentos ligados à Saúde e o terceiro pavimento, rodeado por terraços, agrupa os cursos de Design/Comunicação e Idiomas/Turismo.

Cada material de construção responde à sua maior vocação, com uso racionalizado e responsável. O concreto será utilizado nas fundações, subsolo com garagens e serviços, e na torre de infraestrutura que se dobra no andar térreo para arrimar o solo. A estrutura principal do bloco de aulas será em aço para permitir flexibilidade, com poucos apoios e grandes vãos, a partir do emprego de menor peso de material possível. A vestimenta interna será em madeira industrializada, apropriada para o uso mais próximo e seco. E as proteções solares, verticais e horizontais, serão em telas industriais adequadas ao uso externo.

A modulação da estrutura corresponde à necessidade do programa de áreas. Todas as salas solicitadas foram contempladas com precisão, sem a presença de pilares internos, o que garante os arranjos mais adequados e flexíveis a cada ação. A circulação horizontal se desenvolve em todos os níveis em continuidade às duas pontes que conectam a escada aberta e os elevadores ao bloco de aulas. Os cursos também se organizam a partir desses dois acessos. Os corredores se interligam, associados a duas escadas protegidas de segurança, centralizadas, que garantem as distâncias máximas de 35 metros, adequadas às rotas de fuga em caso de emergência. Os sanitários, em todos os andares, se localizam numa ponta da torre de infraestrutura, bem como os depósitos e as copas na outra extremidade.

O edifício busca responder exemplarmente ao tema da economia de energia. Todas as áreas comuns não necessitam de climatização artificial. As trocas de ar proporcionadas pela abundante ventilação cruzada do espaço central, acrescidas do resfriamento ocasionado pela presença da mata e da água, permitem uma adequada temperatura aos usos externos. O espelho d’água adquire também essa função, além de ser elemento da paisagem e memória das águas de Salvador: lavagens, lagoas e mares. As águas de chuva que escoam pela encosta serão absorvidas por jardins de chuva que contornam o edifício. As salas de aula também terão ventilação adequada, diminuindo a necessidade permanente de ar condicionado. Evidentemente, todos os recursos para coleta e reaproveitamento de águas pluviais, equipamentos para utilização e eventual produção de energia solar, sistemas adequados para tratamento de águas sujas, áreas para coleta e destinação de resíduos sólidos, entre outros, estarão presentes no edifício. A luz zenital desse saguão garante iluminação natural para as salas voltadas para dentro também, reduzindo imensamente o consumo de energia elétrica.

Em todos os níveis existem espaços de respiro menores, de descompressão, além do grande saguão. Os usuários têm acesso, no térreo, a um jardim lateral provido de uma horta. No mezanino, um terraço linear de descanso estabelece o limite frontal da edificação e a mediação com a avenida de fundo de vale é realizada através de um longo jardim que confere qualidade vegetal à entrada da instituição. A cobertura, no terceiro pavimento, possibilita conexão visual com todo o entorno urbano.

O projeto é uma convocação para que as pessoas experimentem um lugar de ensino criativo, inclusivo, agregador, no qual as raízes da cultura brasileira possam ser sentidas, desfrutadas e apreendidas. Não é um objeto abstrato indiferente ao seu sítio, ao contrário, nasce da leitura específica desse lugar em Salvador, Bahia. A cidade educa.

local salvador, bahia

 

ano 2023

 

autores cristiane muniz e fernando viégas

 

colaboradores ana luiza corrêa, joaquin gak, kátia castilho, leonardo sarabanda, paula reis, sabrine klitzke

 

consultores

orçamento liziane lorenzini

 

imagens eduardo martorelli

 

estrutura companhia de projetos

 

instalações JPD projetos e instalações hidráulicas

 

maquete estúdio síntese

 

leed/sustentabilidade Ca2

 

climatização thermoplan

 

cozinhas industriais nucleo ora

 

elevadores marcelo borba