CASA NÔMADE, 2015

projeto realizado a convite da Revista Bamboo

Eventos temporários justificam construções desmontáveis e nômades. É o caso das emergências como inundações, queimadas, deslizamentos – recentemente vimos a cidade de São Luís do Paraitinga submergir nas águas do rio que transbordou. Inúmeras pessoas ficaram sem casa de uma hora para outra. As grandes obras de infraestrutura movimentam um contingente enorme de trabalhadores para regiões desabitadas, onde se constroem casas precárias e depois de alguns anos todo esse material se perde, sem reaproveitamento, numa ação predatória do lugar. Basta lembrar das obras para rodovias e hidrelétricas. As festas são eventos temporários que também podem necessitar de infraestrutura de alojamento, como grandes festivais de música, ou mesmo os acampamentos para os movimentos sociais ligados à reforma agrária.

Construir estes abrigos temporários requer estratégia de uso de sistemas industrializados que permitam montagens secas com baixo impacto de implantação. A escala industrial permite que sejam baratos e reaproveitáveis. A construção deve ser rápida, simples e executada sem grande maquinário. Para isso, tem que ser leve, cuja construção não exija mão de obra qualificada. A logística de transporte do material é estruturante para a escolha do sistema. Os componentes necessitam ser empilháveis para armazenamento compacto e transporte em pequenos veículos, pois os terrenos podem ser variados, distantes e com acessos complicados.

Um dos mais difundidos sistemas que respondem a esses requisitos são os andaimes. Temos larga experiência de uso e vários fabricantes destas estruturas tubulares de aço articuladas por nós. Na paisagem de qualquer cidade brasileira é possível perceber sua presença. Apoiam-se diretamente no edifício ou no próprio solo, pois as cargas mínimas são distribuídas pela quantidade de apoios. Essa solução resulta em uma construção 60% mais leve que uma obra convencional.

Apresentam diversos componentes industrializados como escadas, vigas, guarda corpos, planos horizontais metálicos para piso e forro. Permitem construções horizontais, verticais, isoladas ou agrupadas. Operários estão acostumados a montar essas plataformas, duas pessoas podem construir uma estrutura alta, sem ferramentas especiais. O princípio é que o sistema é a própria máquina de sua construção. A estrutura periférica possui uma virtude grande: a possibilidade de espaços interiores livres de estrutura, capazes de absorver diferentes usos do espaço: casas, escolas, comedores, salas de encontros coletivos.

A estrutura horizontal se apresenta como solução mais simples, as cargas reduzidas de apoio prescindem de fundação, que se resolvem com sapatinhas em chapa metálica de 60x60cm. A estrutura vertical, utilizada como exceção, funciona através de componentes conjugados, unindo quatro postes padrão com escoramento de alta capacidade. Os sistemas de contraventamento aparecem tanto nos pisos quanto em alguns elementos verticais, porém, no caso de pouca área disponível para implantação, poderia ser uma opção.

A construção se completa com outros componentes industrializados e leves. Painéis de madeira reciclada, comuns nos tapumes de obra, para os vedos verticais; chapas de policarbonato que correm e permitem passagem de ar e luz para portas e janelas; telhas metálicas para coberturas e tela agrícola tensionada para proteção externa de sol e chuva.

A autonomia energética e a responsabilidade ambiental são chaves para completar essa equação. As instalações hidráulicas devem prever o reaproveitamento de águas pluviais e o tratamento de esgoto através de mini estações, individuais por unidade ou para a edificação. A captação de energia solar para fornecimento de energia elétrica e aquecimento de água. A proteção solar nas fachadas, a cobertura distante do forro e a ventilação cruzada nas unidades garantem a qualidade térmica do conjunto.

data 2015

arquitetura UNA arquitetos: cristiane muniz, fabio valentim, fernanda barbara, fernando viégas

colaboradores  ana julia chiozza, fernanda botelho, julia jabur zemella, marie caroline lartigue, otávio pereira de magalhães filho, thiago benucci

consultoria estrutural companhia de projetos heloísa maringoni