CASA EM TRANCOSO, 2005

Partimos de um terreno em suave declive rumo ao mar. Com poucas árvores, a vista define-se num recorte entre uma colina densamente arborizada e o mar.

A casa organiza-se em dois pavilhões paralelos entre si e perpendiculares à encosta. O espaço livre é assim interiorizado e assume a configuração de um pátio que, por sua vez, enquadra a paisagem do vale e do mar. O pátio é o espaço para onde se voltam os ambientes principais da casa, garantindo total independência das construções vizinhas. Esse desmembramento do programa evita a habitual divisão dos volumes em casa de caseiro, casa principal e pavilhão de piscina. Aqui, num movimento contrário, incorporamos esses programas (que tendem a ser dispersos no terreno), com o desejo de garantir um jardim mais amplo e contínuo. Isso sem comprometer, evidentemente, a privacidade de cada família.

Essa organização também sugere uma maior informalidade, sempre desejável a uma casa de praia. Os ambientes são amplos, com tetos inclinados e sempre associados a varandas, sempre com vistas oblíquas e generosas sobre a paisagem. Os ambientes ganham assim uma autonomia que se reflete não só na privacidade como em condições otimizadas de ventilação e iluminação natural. Por fim, a implantação permite que a casa pouco interfira, e se beneficie, do fluxo de vento predominante, sentido mar –encosta.

A casa, em sua organização linear, estabelece sempre relações diferenciadas com o terreno. Junto à rua, está levemente rebaixada, sugerindo uma construção com a singeleza das casas da região. O telhado se aproxima do solo. Um muro de pedra envolve a casa e caracteriza o acesso. Os dormitórios e as varandas estão nivelados com o pátio. Um terceiro nível acomoda a piscina e aproveita a sombra gerada pelos volumes da sala e do dormitório do casal, já totalmente soltos em relação ao solo. A parte baixa do jardim fica assim diretamente relacionada à casa.

A sala e a cozinha estão integradas num mesmo volume envidraçado, que desfruta da vista ampla sobre o vale e o mar através do pátio. A cozinha fica associada a uma varanda com a mesa de refeições e a sala com uma varanda debruçada sobre a encosta, também com vista para o mar. O dormitório do casal reproduz essa mesma condição, embora resguardado do pátio. Evitou-se o desenho de varandas como puxadinhos da cobertura, ou seja, as varandas são espaços contínuos sob a mesma cobertura – salas abertas. Algumas pequenas alterações sobre o programa também foram sugeridas, como a supressão do lavabo, que nos pareceu desnecessário frente a localização do vestiário – vale aqui lembrar que a legislação do condomínio impede a localização de qualquer programa no pavimento inferior.

São esses os aspectos que gostaríamos que vocês avaliassem nesse primeiro estudo. O padrão dos acabamentos está em aberto e podemos definir isso na próxima etapa, o anteprojeto. Podemos, contudo, antecipar o seguinte:

Os muros e embasamentos podem ser de pedra, um granito da região com assentamento irregular. Os pisos externos podem ser de tijolo ou de madeira, em forma de deck. A estrutura de madeira pode ser feita com toras de eucalipto no padrão da região ou pode ser uma estrutura aparelhada e calculada, feita por uma empresa especializada. A cobertura dos pavilhões pode ser feita com telhas de barro ou madeira. Se feita com telhas de barro, pode-se optar por deixar alguns ambientes sem forro. As telhas de barro podem ser artesanais (tipo sergipinha)ou industrializadas. As primeiras ficam mais rústicas, porque as telhas são bem mais irregulares (e é esta a graça).

Os pisos internos podem ser de cimento queimado e/ou assoalho de madeira, e as paredes pintadas com cal pigmentado. Os forros podem ser em ripado de madeira, no tom da madeira ou pintado de branco. A piscina pode de ser de concreto (ou argamassa), de forma que a água fique com uma coloração de lagoa, ou seja, levemente esverdeada. Ou podemos revesti-la com pastilhas de vidro numa tonalidade mais escura. O paisagismo é fundamental neste projeto. Imaginamos jardins exuberantes que amenizem não só o microclima no terreno, como também a própria presença da casa na encosta.

Como se vê, é uma casa pensada e focada para quem a utiliza, simples, mais discreta quando vista da rua e mais expressiva a medida que desenvolve sobre a encosta, descortinando vistas que hoje não parecem prováveis no terreno.

local trancoso, BA

projeto 2005

obra 2010

área do terreno 2.000m2

área construída 420m2

arquitetura UNA arquitetos cristiane muniz, fábio valentim, fernandabarbara e fernando viégas

estrutura de madeira callia estruturas de madeira

estrutura de concreto stec do brasil

instalações hidráulicas p.d’aprile consultoria e projetos

instalações elétricas caiuby projetos e serviços deengenharia

sondagem yoko engenharia

construção cláudio falabretti