CONSERVATÓRIO EM TATUÍ, 2010

O Conservatório de Tatuí, fundado em 1951, é reconhecido como uma das mais importantes instituições de ensino dramático e musical do país. O projeto de ampliação de suas instalações físicas representa não só a oportunidade de qualificar seus espaços existentes, mas sobretudo a possibilidade de intensificar a presença do novo complexo na cidade, com um desenho que reforça o caráter público e cultural dessa escola.

INSERÇÃO URBANA

O projeto busca a valorização do conjunto teatro/antiga câmara como a identidade urbana do Conservatório de Tatuí, recuperando a qualidade arquitetônica original desses edifícios. Toda a frente da Rua São Bento será tratada como um amplo jardim, estabelecendo uma continuidade da massa de árvores, hoje limitadas ao espaço lateral do teatro Procópio Ferreira. Essa valorização da fachada principal do Conservatório é reforçada com o novo prédio laminar, espécie de expansão lateral da caixa de palco do teatro onde se localizam a administração e salas de aula teóricas. A nova unidade volumétrica, resultante da fusão da volumetria original do teatro com o edifício novo, dilui a caixa de palco e valoriza os edifícios antigos. Um segundo bloco, implantado junto à divisa de fundo do terreno, abriga salas de ensaio, educação musical (infantil) e, no térreo, um novo teatro para um público de 200 pessoas. Entre os dois edifícios foi desenhada uma praça que organiza todo o conjunto e define o acesso principal desse novo teatro, como será descrito a seguir. A comunicação dos jardins da Rua São Bento com a nova praça é garantida pelo térreo livre do novo edifício.

O projeto de ampliação do conservatório se apresenta, portanto, como a valorização do patrimônio original conectado a dois novos edifícios paralelos, que conformam longitudinalmente entre si uma praça. A praça, além de ligar as duas ruas que envolvem o terreno, cria um amplo espaço público que caracteriza o Conservatório.

PRAÇA

A nova praça é fundamental para assegurar uma relação urbana transformadora e positiva, uma nova referência à cidade de Tatuí. Acesso principal para o complexo do conservatório, a praça é animada por lojas e cafés, além de se relacionar diretamente com o novo teatro (200 lugares). Espaço aberto de conformação mais densa e urbana, a praça se contrapõe ao grande jardim frontal, no sentido de favorecer a concentração de pessoas, criando um espaço vivo, tão desejável a uma  escola de artes.

PROGRAMA:A complexidade do programa é a garantia do dinamismo do conjunto, que além das funções ligadas ao ensino (que aqui serão concentradas), inclui no formato final três salas de espetáculo. O atual teatro Procópio Ferreira (430 lugares), a sala Villa Lobos (100 lugares – projeto em andamento) e o novo teatro proposto com 200 lugares. Juntas, essas salas podem receber um público de mais de 700 pessoas simultaneamente, sem interferir no funcionamento das atividades didáticas.

A divisão dos usos sugeriu a distinção entre os dois novos edifícios:

BLOCO A_TRANSPARENTE: Um prédio mais transparente abriga os usos que podem usufruir das vistas para o exterior, da luz e ventilação natural. Aí se localizam as áreas administrativas, salas de professores e coordenadores, salas para aulas teóricas, espaços de estar e salas de estudo. Esse bloco é envolvido por uma varanda contínua que ora é fechada com vidro e ora permanece aberta. Todo o edifício é protegido por um quebra-sol, que permite vistas tanto para a praça interna do conjunto como para novo jardim. Ele é atendido por elevadores de passageiros e banheiros de acessibilidade universal. No térreo desse edifício, ao nível da praça, se localizam loja e café, funcionando como uma ampla varanda de acolhimento à beira dos jardins.

BLOCO B_OPACO: O bloco B abriga as salas de ensaio e os estúdios, espaços de duplo pé-direito, climatizados e de acústica controlada. Esse edifício abriga também algumas facilidades como: elevador de carga, elevadores de passageiros, escadas de segurança, sanitários acessíveis e depósitos de instrumentos musicais, estes distribuídos por todos os andares.

Nesse bloco existem poucas aberturas, limitando o uso de caixilhos acústicos (de alto custo). A geometria das salas evita o paralelismo das paredes e forros acústicos controlam o volume de ar de cada sala conforme o uso predominante. As paredes são altamente estanques e as lajes duplas (sendo a superior flutuante sobre material isolante), evitando a transmissão de ruído ou vibração para ambientes contíguos.

O novo teatro para 200 pessoas ocupa o térreo desse bloco. Além do foyer/café, a própria sala de espetáculos pode se relacionar com a praça (ela própria uma opção de acesso independente do resto do conjunto). A proposta é que a nova sala explore a condição de teatro-escola. Assim, propõe-se que ela possa se relacionar visualmente e também fisicamente com o exterior, a praça interna, sem perder as qualidades acústicas e cenotécnicas. Muitas das atividades que antecedem um espetáculo (ensaios, montagem de cenários, testes de som e iluminação cênica) podem ser acompanhadas sem que as pessoas estejam dentro da sala, podendo ser o grande atrativo da praça interna.

Por fim, este bloco também abriga as atividades de educação musical para crianças, para que a praça interna sirva como acesso independente e também expansão natural das atividades didáticas.

PASSARELAS: Duas passarelas em níveis distintos interligam os blocos, e mais do que isso, foram desenhadas com dimensão adequadas para se tornarem espaços de convívio entre professores e alunos. Os tetos das passarelas por sua vez funcionam como terraços, sendo o primeiro (mais baixo) sombreado pelo segundo.

Essa solução faz com que apesar da necessária verticalização do conjunto, os andares tenham amplos espaços de convivência que não só transformam os dois blocos num piso contínuo, como se relacionam francamente com a praça interna, transmitindo a dinâmica da escola para a cidade.

ACESSOS: O acesso ao conjunto é feito por uma rampa na entrada principal da praça. Essa rampa conduz à varanda que concentra o controle e a distribuição dos acessos principais: secretaria, sala Villa Lobos, teatro novo (200 lugares), biblioteca e elevadores de acesso aos dois blocos verticais. Uma escada liga esse espaço diretamente ao estacionamento em subsolo (útil caso o estacionamento seja gerido por uma empresa específica). Com essa concentração dos acessos, o conjunto pode funcionar com total controle sobre a entrada e saída dos usuários e permite que os outros programas, localizados na praça, de acesso direto, funcionem em horários independentes.

O acesso ao estacionamento no subsolo é dividido em rampas de entrada e saída para ruas distintas, e permite a entrada de caminhões a uma rua interna para carga e descarga (independente da altura do veículo). Junto à área de carga e descarga está o acesso ao elevador (carga), que pode atender tanto o teatro novo como a todos os pavimentos do bloco de estúdios e salas de ensaios.

A entrada principal do Teatro Procópio Ferreira permanece como está, ou seja, pela rua São Bento.

EMBASAMENTO

O embasamento acomoda, além da varanda de distribuição e controle, uma grande biblioteca. Com quase 800m2, esse espaço é iluminado naturalmente por um jardim rebaixado e, por ter acesso independente, pode funcionar de forma autônoma em relação ao resto do conjunto. Ocupando todo o espaço inferior da praça, a biblioteca se define num amplo espaço contínuo, onde acervo e áreas de leitura estão agrupados junto a um jardim. Resguardado em relação à praça, esse jardim proporciona uma micro paisagem para o salão de leitura.

Nesse nível estão locados também os camarins, tanto para o novo teatro como para Teatro Procópio Ferreira, substituindo o anexo relativamente precário que existe atualmente.

OTIMIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

O projeto busca otimizar os recursos naturais, melhorando a eficiência energética do conjunto. Este ponto norteou a distribuição dos usos e a caracterização dos dois novos edifícios com formas distintas, ou tratamentos distintos para os fechamentos e fachadas. Espaços de transição (varandas), adoção de quebra-sol, ventilação cruzada para a maior parte dos ambientes, caracterizam o prédio mais transparente. No bloco dos estúdios e salas de ensaio, de maior opacidade, a climatização é uma exigência acústica, de forma que as salas têm total estanqueidade acústica e permitem o uso simultâneo sem interferência entre si. Com poucas aberturas, as trocas de calor são menores, economizando energia do sistema de climatização, resultando num edifício de maior inércia térmica.

A luz natural para essas salas é garantida pelos caixilhos com tratamento acústico.

A praça que organiza o conjunto foi projetada como um lugar sombreado, protegida do sol escaldante, o que garante também a proteção térmica dos programas localizados no pavimento inferior. O sombreamento da praça foi garantido pela posição e altura dos edifícios, bem como pela projeção das passarelas. Foi proposto também o incremento da arborização no jardim frontal, área permeável extensa, capaz de gerar sombra e umidade. A irrigação do jardim pode ser feita com sistema mecanizado, utilizando água de reuso proveniente das coberturas.

arquitetura UNA arquitetos: cristiane muniz, fábio valentim, fernanda barbara, fernando viégas

colaboradores   ana paula de castro, carolina klocker, fabiana cyon, gabriela gurgel, miguel muralha, silio almeida

consultoria de acústica acústica & sônica josé augusto nepomuceno

consultoria em fundações e estrutura companhia de projetos